terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A Conferência de Copenhague Acabou. E agora?

Ricardo Rettmann

A Conferência do Clima de Copenhague acabou há alguns dias e, como sempre acontece com temas que ficam muito em evidência, a mídia parou de falar sobre o assunto. A conclusão feita pelos veículos de comunicação brasileiros sobre o evento foi negativa. Mas para quem viveu essa experiência, principalmente os que participaram de uma COP pela primeira vez (como é o meu caso), o que fica de Copenhague não é tão ruim assim.
Se por um lado o dito “Acordo de Copenhague” foi apresentado na última hora e acabou sem relevância, viver a COP 15 foi sensacional. Estiveram presentes mais de 35.000 pessoas, de aproximadamente 190 países, de todos os continentes do Planeta, além de 130 chefes de estado, entre presidentes e primeiros ministros, fato que engrandeceu o evento.
O Brasil estava presente com a maior delegação do mundo, com cerca de 800 pessoas na delegação oficial, mais a delegação das ONGs brasileiras - demasiadamente grande. A Conferência foi uma conexão de ações, ideias e projetos globais que com certeza não seriam possíveis em outra oportunidade. Sem falar que foi muito maior que a famosa ECO-92 e que a imprensa mundial deu uma importância até exagerada para o evento.

Só que, essa mesma imprensa, mesmo antes da Conferência, pintou Copenhague como a grande esperança da Terra, a solução dos nossos problemas. Mas, ao mesmo, ignorou que existem milhares de interesses por trás, muito fortes e poderosos, que fazem com que cada movimento pretendido por nós, otimistas, demore muito mais do que nossa paciência consegue aguentar.

Outro aspecto positivo para os brasileiros foi ver o Lula falando de improviso maravilhosamente bem e sendo aplaudido de pé pelo mundo; a Dilma engolindo as gafes que fizeram a alegria da imprensa nacional tendo que se reunir com as ONGs para se atualizar sobre o assunto; o Itamaraty assumindo de uma vez por todas a importância das florestas e do REDD; e Marina Silva exercendo uma forte liderança, apesar de sua frágil aparência física....tudo isso é incalculavelmente positivo. Colocou de uma vez por todas a questão da sustentabilidade na agenda política nacional e com certeza o tema marcará o debate eleitoral brasileiro em 2010.

Internacionalmente, os EUA, apesar de não colocarem todas as cartas na mesa, pela primeira vez entraram de verdade nas negociações do clima (as pessoas se esquecem que por oito anos da administração Bush, os EUA se recusavam a participar e, mais do que isso, por muito tempo negaram a influência humana sobre o aquecimento global). A China, outro importante player global, também assumiu metas (apesar de bastante questionáveis) e concordou com alguns números genéricos que saíram do acordo, como o aumento máximo de 2 graus Celsius na temperatura da Terra e valores de financiamento para países pobres.

O que ficou de negativo realmente foi a falta de um acordo legalmente vinculante (só houve um acordo político, sem números claros, assinado por apenas 25 países, na ultima hora de Conferência). Também foi absurda a ausência das ONGs nos momentos decisórios de Copenhague, já que foram proibidas de entrar no local do evento desde 4a feira da última semana, dia em que chegaram os chefes de estado. Muitos representantes da sociedade civil gastaram muito dinheiro para perder a viagem, cabendo inclusive um processo coletivo contra as Nações Unidas.

Um acordo global como este não tem força de lei, já que não coloca ninguém na cadeia e, em se tratando de países tão fortes economicamente como por exemplos EUA, China e Alemanha, também não trará sanções econômicas.

Um acordo climático só funcionará realmente quando a sociedade estiver preparada para pressionar os governos e, por sua vez, os governos preparados para mudar a lógica de desenvolvimento, baseada em crescimento puro e simples.

E agora, o que fazer? Agora temos marcada para dezembro de 2010 uma próxima Conferência, a ser realizada no México, e precisamos construir as bases para a efetivação de um acordo. Necessitamos de uma articulação para pressionar governos, capacitar a sociedade, pesquisar profundamente sobre o assunto, atuar localmente e multiplicar boas ideias.

Enquanto o pacto social não estiver construído nesta direção, um acordo climático será apenas mais um papel assinado e uma linda foto para a imprensa mundial.

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